Quando saio pra triciclar me despojo de quase tudo. Carrego comigo somente o essencial. A carteira de motorista com a identidade e CPF; o meu cartão do SUS e do Plano de Saúde; uma garrafinha com água gelada -- daquelas que os ciclistas instalam em suas bikes; -- uma fruta -- banana ou tangerina; -- um dinheiro plástico; um troquinho, para alguma eventualidade; um apito e um contador manual; Ah! Um velho celular para registrar as peripécias, encontros e reencontros; Sandálias japonesas, short, camiseta e certamente meu chapéu completam minha vestimenta.
Este fato que passarei à narrar, aconteceu na minha triciclada do dia 22/09/18, sábado, pela manhã, na av. Duque de Caxias, próximo ao Santuário de Fátima, Belém, Pará.
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01. Santuário de Fátima, Belém, Pará. |
Eu tinha acabado de fazer uma pequena compra numa loja próxima que totalizou R$10,30.Paguei com R$15,00 -- era o que eu tinha -- e recebi obviamente um troco de R$4,70. Momentos depois, avistei um veículo estacionado mais adiante em uma das vagas do canteiro central da avenida. Estava vendendo morangos.Na placa anunciava o preço: R$4,99!
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02. Vendedor de morangos. |
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03. Morangos em bandejas. |
Me dirigi até ele. O vendedor, sentado no banco do motorista, com as pernas levantadas por cima do guidom manuseava seu celular. Quando disse que eu queria comprar morango ele mais que depressa se levantou, abriu a porta e se dirigiu para onde estava as bandejas de morango, expostas na carroceria do carro. -- Me faz uma por R$4,70? Perguntei, já segurando uma bandeja escolhida. -- Não posso! -- Respondeu ele, secamente. Devolvi a bandeja e sai. Ao comentar o fato que tinha acabado de acontecer com um flanelinha, um senhor que faz ponto nesse trecho e com quem sempre cruzo em minhas tricicladas por aquelas bandas, cumprimentando-o e ele sempre respondendo.
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04. Sr. Raimundo, flanelinha da av. Duque de Caxias, próximo ao Santuário. |
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05. Sr. Raimundo, flanelinha da av. Duque de Caxias, próximo ao Santuário. |
Assim, de supetão, ele pegou uma pequena sacola plástica onde guardava a sua "renda", e abrindo-a me ofereceu: -- Pegue R$0,30 e compre o seu morango.
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06. Trinta centavos de reais. |
Eu, de certa forma surpreso, acenei que não. Mas ele insistiu e escolheu as moedas e me deu. Peguei, agradeci e fui comprar os morangos no carro estacionado bem perto. -- Taqui. R$5,00. Peguei a bandeja de morangos, agradeci e fui embora.
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07. A bandeja de morangos. |
Retornei com o flanelinha e ofereci uma das tangerinas que levava comigo pro meu lanche. Finalmente papeamos um pouco e segui caminho cantarolando:
"O mundo é bão, Sebastião
O mundo é bão, Sebastião
O mundo é bão, Sebastião
O mundo é teu, Sebastião…".
Agora, alguns dias depois do fato acontecido, analiso a situação e concluo, sem querer julgar nada ou ninguém. O vendedor de morangos exercitou a sua profissão de comerciante: Vender é claro e com lucro! Por mais que tenha me parecido um vendedor desatento, pelo jeito largado com que recebeu o consumidor, mas mesmo assim exerceu o seu papel. Se era R$4,99, então tinha que ser R$4,99 -- mesmo a gente sabendo que aquele um centavo faz parte do marketing...Quem sabe o "patrão" lhes tenha imposto esse valor como condição para continuar como seu vendedor!
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08. O vendedor. |
O flanelinha, porém, despiu-se de qualquer senso de vendedor de serviço -- o de guarda dos veículos, que muitas vezes é apupado, inclusive por mim -- e compartilhou algumas moedas, sabe-se lá quanto tempo precisou para angariá-las e às ofereceu pra mim sem titubear.
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09. Sr. Raimundo, o flanelinha bondoso. |
Repito o refrão:
"O mundo é bão, Sebastião!
O mundo é bão, Sebastião!
O mundo é bão, Sebastião!
O mundo é teu, Sebastião…"
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