sábado, 30 de março de 2019

CINQUENTA E CINCO ANOS DEPOIS.

O artigo abaixo, foi escrito por mim e publicado inicialmente no WEBArtigos em 08 de junho de 2016, três dias depois da morte do Coronel Passarinho. 
Hoje, o republico editado com imagens capturadas na internet. Será minha homenagem aos brasileiros, especialmente aos paraenses, que viveram como eu, aqueles anos. Hoje, 55 anos depois, certamente podem comparar os Parás e os Brasis daqueles anos com os de hoje. Caberá, porém, à História analisa-los e julga-los independentemente de ideologias, doutrinas e opções político partidárias.
Em 1964! 
Em 1964 eu tinha 13 anos. Morava com meus pais e um irmão mais velho, em uma casa simples, na rua Veiga Cabral, quase esquina da Travessa Ângelo Custódio, bairro da Cidade Velha em Belém, Pará. 
01. Casa de meus pais na rua Veiga Cabral, quase esquina da trav. Ângelo Custódio, Cidade Velha, Belém, Pará. Meu pai reformou e à transformou em bangalô e com a arquitetura da época. Antes os telhados eram geminados com a casa da esquina. 
Meu pai, capitão-dentista do Exército e minha mãe costureira. Tínhamos uma vida também simples, porém, digna. De vez em quando, a rotina era quebrada com alguns fatos que presenciava no quarteirão e mais precisamente na casa ao lado, que fazia esquina com a travessa. Carrões apelidados “rabos de peixe”, zerados, estacionavam ao lado de casa. Eram tantos que enfileirados quase chegavam à esquina da av. 16 de novembro, um quarteirão adiante! 
02. Automóvel rabo de peixe. 
03. Automóvel rabo de peixe. 
No mês de junho, nas festividades juninas, me impressionavam os fogos de artifícios que iluminavam as noites, soltados pelo vizinho da esquina. Eram instalados no chão da rua, bem no cruzamento da Veiga Cabral com a Ângelo Custódio. Um chafariz de luzes coloridas, um vulcão, o que era aquilo? 
04. Fogos de artifícios.

05. Fogos de artifícios. Vulcão.
Também soltavam bombas que faziam tremer tudo... Enquanto assistia aquele verdadeiro show pirotécnico das crianças do vizinho, eu e meu irmão, contentava-nos em soltar algumas “estrelinhas” seguras nas pontas dos dedos...
06.Estrelinhas.

07. Estalinhos ou traques.
De vez em quando uns “estalinhos” ... Nada de bombas ou bombinhas. (Só umas “bobinhas” que escondido de meus pais, aprendi à fazer com uma chave de fechadura de porta, um prego, barbante e algumas cabeças de fósforos...Ou ainda, uma bombas mais poderosas feitas com pólvora tirada de outras bombinhas, misturadas com alguns grãos de seixo e embrulhadas em um pedaço de papel, bem amarrado com barbante. Para dispará-las, subia no muro da vizinha em frente e com um paralelepípedo de rua nas mãos, lançava-o sobre a pequena trocha colocada estrategicamente no chão, próximo do muro e vinha o estrondo...) No fim do ano, no Natal, os filhos do vizinho ganhavam carrinhos movidos à pilha, que apitavam, movimentavam-se freneticamente guiados pelos pequenos. 
08. Carrinhos elétricos. Autorama.
Eu e meu irmão ficávamos felizes com os pequenos carrinhos de madeira que nossos pais nos presenteavam, ou outros brinquedos singelos que íamos pegar no Quartel General do Exército, em frente à Praça da Bandeira, na festa de Natal... 
09. Carrinho de madeira.

10. Prédio do Quartel General do Exército em Belém, Pará.
Quando veio a Revolução (ou Golpe) de Março, meu pai foi convocado para ficar aquartelado em prontidão. Lembro-me dele vestindo a farda e tirando um enorme revólver, que ficava guardado escondido no quadra roupa do quarto dele. Lembro-me nesse instante, que o vizinho da esquina, aquele que dava brinquedos superavançados, que soltava super fogos, e que, digamos, parqueava os carros “rabos de peixe” supermodernos, chegou pro meu pai e pediu, agoniado, quase chorando, que “não dedurasse” ele... Fiquei sem entender muito bem o que significava aquilo. Quando meu pai fazia pequenos consertos domésticos em casa, quem o acompanhava e o ajudava, quase sempre era eu. Numa dessas ocasiões, ao subir com ele no forro de casa para consertar algumas goteiras do telhado, vi que o telhado das duas casas, a do meu pai e a do vizinho da esquina eram um só. Não tinha parede separando os dois telhados. Sobre o forro, vi caixas de uísque, tapetes (persas?!) e muitos outros objetos, cuidadosamente guardados pelo nosso vizinho. Entendi então o motivo da súplica do vizinho, dos carros “rabos de peixe”, dos fogos juninos e dos brinquedos de Natal...
11. Uisque Cavalo Branco.

12. Tapetes.
Ele era um “contrabandista”! Políticos de então, davam verdadeiros bacanais em uma casa localizada na beira da estrada Belém – Brasília, na altura da hoje Marituba. A casa ficou famosa pelo desenho que imitava um navio... Era a Casa-Navio! Na capital, um outro grande contrabandista de então, inaugurava uma das primeiras lojas de magazines: 
13.. Nesta esquina -- Av. Presidente Vargas, esquina da Rua Riachuelo--  existiu a loja RM Magazine. 
A RM Magazine. Av. Presidente Vargas com a Travessa Riachuelo. Hoje, seus descendentes, são donos de uma grande organização de comunicação. Com a Revolução (ou Golpe) o Pará, especialmente Belém, deu um salto enorme em desenvolvimento. Dominada que era por “contrabandistas” e políticos inescrupulosos a capital, enfim, todo o estado, era isolado do resto do país. Para se deslocar só via aérea e pelas águas. A estrada Belém – Brasília aberta anos antes, quase todos os meses do ano intransitável, foi finalmente asfaltada. 
14. A rodovia Belém - Brasília finalmente concluída e asfaltada.
15. Novas estradas com a Transamazônica foram abertas.
As comunicações deram um salto formidável com a criação da EMBRATEL
16. As comunicações no norte do país, especialmente foram impulsionadas com a criação da EMBRATEL.
As principais ruas e avenidas do centro de Belém, antes de terra ou revestidas de paralelepípedos receberam asfalto. 
17. Ruas e avenidas de Belém finalmente receberam asfalto.
Obras inacabadas e abandonadas foram transformadas em colégios como o Augusto Meira que ocupou um prédio que deveria ter sido uma maternidade, na capital, Belém. 
18. Um prédio inacabado onde deveria ser uma maternidade deu origem a um colégio.
19. Escola Estadual de Ensino Médio Augusto Meira.
 Universidade Federal do Pará, UFPa, finalmente foi integrada em um campus à beira do rio Guamá, em Belém,
20. A Universidade Federal do Pará, UFPa, finalmente foi integrada em um único local, o campus do Guamá.
 e a Escola de Agronomia da Amazônia, EAA, que tinha apenas um curso, o de Agronomia, foi transformada em Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, FCAP, com a criação e funcionamento de novos cursos como o de Engenharia Florestal, Medicina Veterinária e Engenharia de Pesca. 
21. A Escola de Agronomia da Amazônia, EAA, foi transformada em Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, FCAP, hoje Universidade Federal Rural da Amazônia, UFRA.

Repartições estatais foram transformadas em empresas como o Serviço de Navegação na Amazônia e Administração do Porto do Pará, SNAPP, em Empresa de Navegação da Amazônia, ENASA, 
22.  O Serviço de Navegação da Amazônia e Administração dos Portos do Pará – SNAAPP, deu origem à Empresa de Navegação da Amazônia, ENASA.
o Serviço de Proteção ao Índio, SPI, em Fundação Nacional do Índio, FUNAI

23.  O Serviço de Proteção do Índio, SPI deu origem à Fundação Nacional do Índio.
Outras como a Estrada de Ferro Belém – Bragança foram simplesmente extintas... 
24.  A deficitária Estrada de Ferro de Bragança foi extinta.
25.  A deficitária Estrada de Ferro de Bragança foi extinta.
Foi criado o Projeto Rondon, um programa de extensão universitária que promoveu o intercâmbio entre os jovens universitários de todo o Brasil, ao mesmo tempo em que proporcionou que esses jovens tomassem conhecimento da realidade brasileira, extra muros das academias. 
26.  Projeto RONDON, 1967.
A Revolução (ou Golpe) tinha chegado ao norte e Jarbas Passarinho (governador) e Alacid Nunes (prefeito de Belém),
27.  Alacid Nunes, prefeito de Belém e Jarbas Passarinho, governador do Estado do Pará.
28.  Coronel Passarinho, como gostava de ser chamado, assumiu diversos cargos tanto no executivo como no legislativo Brasileiro.
foram os dois militares que encararam a missão de recolocar o estado do Pará e a cidade de Belém na linha do desenvolvimento e acabar com a corrupção impregnada nos governos e políticos de então. Se conseguiram, só a história dirá, mas certamente tentaram e mudaram muito para melhor...  

(*) Todas as imagens aqui apresentadas foram capturadas na internet no dia de hoje, 31/03/2019.


quinta-feira, 28 de março de 2019

A PELE DO BOSQUE.

 
Hoje, 28 de março de 2019, quinta feira, pela manhã, sem chuvas, resolvi estender minha triciclada até o Bosque, visto que meu objetivo estabelecido não foi completado: A loja de materiais militares fechou, cerrou as portas! -- Ia renovar meu chapéu preferido. 
Portanto, estando perto dali e com tempo disponível suficiente, alcancei a calçada do Bosque pela trav. Perebebuí. Devo dizer que este era um dos passeios dominicais preferidos pela minha família -- Meu pai, minha mãe, meu irmão e eu -- uns 50, 60 anos atrás. Quase todos os domingo íamos, a família toda, passear no Bosque Rodrigues Alves -- que de uns tempos pra cá recebeu o quase intragável título de Bosque Rodrigues Alves Jardim Zoobotânico da Amazônia! -- Aquilo pra mim era como de repente entrar em um universo, em um espaço imensurável, desconhecido, porém, ao mesmo tempo intrigante e desafiador. Quase infinito! Passeios de charrete, de canoa, ou simplesmente caminhar ou correr pelas trilhas de areia franjadas pela exuberância da floresta amazônica! Ver os peixes-bois, os macacos, os jacarés, as ariranhas, a onça, as araras e papagaios, enfim, todo um universo de seres envolvidos por todas as partes, por árvores gigantescas como as samaumeiras, as castanheiras, os angelins e  uma série quase infinita de palmeiras e cipós.
Na manha, segui em frente, cheguei na calçada da av. Almirante Barroso e continuei à olhar e recordar.... Cheguei no portão de entrada principal. Continuei à escanear cerebralmente a paisagem e ao mesmo tempo abrir os arquivos da memoria de 50, 60 anos atrás... O que via agora: Muros pichados -- Ah, mas não é só lá! -- dirão alguns; Placas completamente apagadas; letreiro principal na parede faltando algumas letras e pichado; estátuas dilaceradas e mastros que certamente hasteavam as bandeiras nacional e do Pará, prestes a cair... Fotografei e filmei. 
 
 
Foi ai que me veio a ideia: Estou vendo apenas uma parte da pele de Bosque. Vou dar um giro completo: av. Almirante Barroso > trav. Lomas Valentinas > av. Rômulo Maiorana> trav. Perebebuí e de novo av. Almirante Barroso. Quero ver como estão todas as peles deste corpo, deste ser. Então segui em direção à trav. Lomas Valentinas. Alguns ambulantes que ocupam a calçada próxima da parada de ônibus e se estendem até alguns metros na trav. Lomas Valentinas. Observei então que a pele começou a ficar mais velha, mais dilacerada, parasitada que está por limos e outros seres. As grades do muro enferrujadas ou quebradas. O piso da calçada em pedras portuguesas, vez por outra danificados, cacos jogados ao léu. 
 
 
Chegando na esquina com a av. Rômulo Maiorana, a falta de rampas para cadeirantes ou pessoas preferenciais me chamou a atenção. Embora na trav. Lomas Valentinas exista uma ciclo faixa, em nenhum ponto tem sequer uma rampa. Fiz um retorno mental the flash e constatei que em nenhum dos quatro cantos do quarteirão e nem em outra posição ou localização -- na entrada principal, por exemplo -- essas rampas existem!  
 
 
 O meu tempo se esgotou e finalizei com uma terrível hipótese: Se a pele está assim, imagine o cérebro, os pulmões, o coração, o estômago, o intestino, enfim, todos os órgãos deste ser que faz parte da nossa mãe Gaia, como estarão? 
Aqui os vídeos:



(*) Todas as imagens e vídeos são de minha autoria.

terça-feira, 26 de março de 2019

TRICICLANDO NA PRAÇA SANTUÁRIO DE NAZARÉ.

Foi o reinício de minha diversão em vender mudas de camapu. Alcancei sábado, 23 de março de 2019, pela manhã, a Praça Santuário de Nazaré, Belém, Pará, que nos meus tempos de jovem era chamado simplesmente de Largo de Nazaré. Contrariando de entrada, uma placa de "proibido andar de bicicleta, crianças maiores de 10 anos", localizada no lado esquerdo de quem entra, logo depois do portão frontal à Basílica, entrei com o Triciclo Feliz pelo piso marmorizado. Se, contudo, eu fosse abordado por algum guarda, já estava com a minha resposta na ponta da língua: -- Mas eu só tenho 8 anos de vida!!!  
Girei por todos os lados da praça e estacionei em diversos pontos, onde achava interessante fazer fotos ou vídeos de alguma coisa. Foi assim que identifiquei um bom sistema de recolhimento de lixo com diversos conjuntos de cestas para recolher plásticos, papéis, metais e lixo comum. 
 
Também percebi algumas placas de proibido ou indicando uma ação a ser feita naquele espaço, como a de "recolher as fezes de seu animal". As de proibir são várias: São proibidos skates, patins, jogos de bola e bicicletas, todos para crianças maiores de 10 anos! . Não vi a de patinetes. 
 
 
Chamou-me a atenção algumas poças de água com muito limo no piso de mármore, indicando, talvez, uma falta de manutenção mais frequente nessa época de copiosas chuvas. Detalhe: Escorreguei de leve em uma delas...
Outro fato observado foi que o portão de acesso pela av. Generalíssimo Deodoro e os dois laterais (Rua D. Alberto Gaudêncio Ramos e Av. Nazaré) permaneciam fechados e trancados.
  Talvez, pela hora, próxima do meio dia, vi poucas pessoas transitando por dentro da praça ou mesmo a presença de turistas na frente da Basílica Santuário de Nazaré. Alguns ambulantes posicionados do lado de fora, próximos da rua D. Alberto Gaudêncio Ramos e outros na calçada da av. Nazaré. Em vistas disso tudo, limitei-me a fotografar e fazer alguns vídeos que apresento agora aqui.
Algumas recordações do meu tempo de criança e jovem, porém, vieram à tona. Como a denominação do lugar, por exemplo. Chamávamos simplesmente de Largo de Nazaré. Na época do Círio de Nazaré passava a ser chamado de Arraial de Nazaré. Nessa quinzena festiva armavam-se diversas barracas pouco sofisticadas que ofereciam comidas, bebidas e alguns jogos e teatros. Tinham as verdadeiras pescarias, em que os prêmios eram realmente peixes ornamentais e muitas outras coisas mais. A maça do amor, o algodão doce, o quebra-queixo, o pirulito de cupu, as pipocas de milho e de arroz, os cascalhos, os raspas-raspas, os balões à gás e muito mais. 
O chão de areia, as gigantescas samaumeiras e seus periquitos sazonais davam um cenário de Natureza Perto para o lugar e pra quem lá estivesse. 
Penso que naqueles tempos a praça era realmente do povo. 

(*) Todas as imagens e vídeos com exceção da foto aérea (Google Map) são de minha autoria.

Em tempo: Recebi agora mesmo este comentário de minha querida amiga, Lourdes, que compartilho com todos:
"Realmente ...A Praça era do Povo ! Largo de Nazaré e Arraial de Nazaré. Me dá Saudades Tinha tbem, os Coretos:- Um Grande no Centro e os Menores. Além das barracas simples, o Cavalinho. O nome agora eu Santuário de Nazaré. Antigamente  chamava-se Nazareth. O Nome da Santa: Nossa Senhora de Nazareth."