Pela primeira vez o Triciclo Feliz ultrapassou os limites urbanos tradicionais da capital, Belém, Pará e alcançou a Ilha de Mosqueiro, cerca de setenta quilômetros de distância. Claro, ele chegou lá com a ajuda de um pé de borracha de quatro rodas, embarcado que foi. Ele e mais duas bikes. A primeira triciclada aconteceu na sexta-feira, 19/04/19, pela manhã cedo.
Saindo da casa localizada na rua 15 de novembro, bairro da Vila, onde fiquei alojado, alcançando a rua 16 de novembro, onde fiz duas paradas: a primeira para tomar um café com tapioca na esquina e a outra, mais adiante, para visitar um colega que fazia anos que não via, o Natalino, dono do Paraíso Verde, um dos cartões postais da ilha.
Fiquei cerca de uma hora conversando com o "Natal" -- como ele era chamado no ambiente da faculdade décadas atrás. Ele, com a alta competência costumeira e quase infinita dedicação ao empreendimento que há décadas implantou em sua residência, apelidado de Paraíso Verde, não parava de me apresentar as suas plantas exóticas, algumas, e outras, únicas e interessantes. Sempre altamente técnico informando seus nomes científicos, procedências, tratos culturais, métodos de propagação, etc. Vez por outra atendia o celular.
Confesso que na maior parte do tempo mantive-me calado só ouvindo seus ensinamentos. Um exemplo de que o trabalho -- que na verdade não é trabalho e sim um medicamento para a saúde mental e física -- quando feito com amor e competência ornamenta e dá Sentido à Vida. Depois de sorver um saboroso café na varanda de sua casa, combinei com ele que no dia seguinte eu levaria toda a minha família para conhecer o Paraíso Verde. Nos despedimos e segui viagem.
PRAIAS DA ORLA: Alcancei a pracinha do Chapéu Virado onde em sua calçada existe uma ciclo via. Nesta, tomei rumo norte em direção às praias de Porto Arthur, Murubira, Ariramba e... Meu objetivo era alcançar a Baía do Sol, cerca de 20 km adiante.
Eram por volta das 09:30 horas e a maré estava enchendo. Foi ai que vi que meu objetivo não seria alcançado. A ciclo via acabara e fui para o meio fio da av. Beira Mar. Depois de me deparar com diversas "lavagens" da pista pela preamar acontecidas na praia do Porto Arthur, Murubira e Ariramba, quando cheguei na praia de São Francisco, a altura da água estava cerca de 1,00 metro do chão. Impossível continuar! Dei meia volta e retornei pelo mesmo itinerário. Dos 20 km totais (ida) previstos, rodei apenas cerca de 8,5 km, Ao todo, ida e volta, alcancei cerca de 19 km. Fiz uma parada na praia do Farol, onde a minha família se encontrava.
COMENTÁRIOS SOBRE O QUASE TODO VISTO:
Uma das coisas que mais me chamaram a atenção não foram as cenas das pessoas, incluindo crianças, se divertindo nas quebrações das ondas nas marés altas, nos muros de arrimos das praias de Porto Arthur e Murubira, nem o "aleijado mental", -- como diria o Comendador -- solitário, felizmente, com seu som automotivo ensurdecedor, estacionado no meio fio da av. Beira Mar, altura da praia do Murubira, mas sim, a densidade demográfica dos visitantes e suas inseparáveis cadeiras de alumínio nos canteiros gramados da Praça da Matriz de nossa Senhora do Ó, na vila. Ao cair da noite a praça fica entupida de cadeiras de alumínio, casualmente uma geladeira de isopor/plástico ao lado e muitos celulares nas mãos, especialmente entre os mais jovens. Sem falar que, se você pretende ir de carro até a praça, encara um engarrafamento de fazer inveja à BR-316 na entrada de Belém!
Cada grupo familiar ou de amigos, forma um semi círculo e ai ficam horas e horas papeando entre si, ou "conversando" com os celulares, ou ainda "fofocando" algumas figuras hilárias ou exóticas como a de um homem que contrariando todos os princípios auditivos, ouvia numa caixa sonora digital músicas bregas, enquanto que no coreto central a menos de 30 metros, cantores se apresentavam ao vivo... Vendedores ambulantes de pipocas, raspas-raspas, brinquedos plásticos, amendoins torrados, espetos de queijos assados, algodões doces, dentre outros, circulam pelas calçadas, únicos locais quase livres das cadeiras.
-- Esse mundo não me pertence! -- Falei, como se anestesiado com as cenas e os comportamentos ali observados.
O bucólico de algumas décadas passadas se foi. Mosqueiro, a Ilha bucólica já era.
(*) Todas as imagens são de minha autoria, com exceção das 2 primeiras e das 3 últimas que foram capturadas na internet hoje.